SÃO PAULO
Zona leste lidera em casos de intoxicação por K9; veja bairros
Dos 324 registros entre 1º de janeiro e 20 de maio, 190 dos atendimentos médicos foram na região; veja quantidade por bairro

Em 2017, uma nova droga começava a circular em São Paulo, principalmente nos presídios. Na época, era a K4, um líquido borrifado em pedaços de papel – o que facilitava a entrada nas unidades prisionais. Em 2020, a substância se popularizou nas ruas com novas formas mais potentes, conhecidas como K2 e K9, colocadas em tabaco ou maconha e utilizadas em forma de cigarro.
A bola de neve cresceu sem parar e agora, em 2023, atinge São Paulo em cheio em questões de segurança pública e saúde. Também chamada de “maconha sintética”, a droga ficou conhecida por causar um “efeito zumbi” em quem a utiliza. O usuário fica desorientado e parece estar em “transe”. As cenas costumam acontecer na chamada Cracolândia, no centro de São Paulo, mas um relatório da Secretaria Municipal de Saúde mostra que a droga circula em todas as regiões da capital.
De acordo com o último relatório da pasta sobre o tema, 58,6% dos casos suspeitos de intoxicação por K9 na capital em 2023 ocorreram na zona leste. Dos 324 registros entre 1º de janeiro e 20 de maio, 190 foram atendidos na região (veja detalhes ao lado). Até 30 de maio, foram 352 atendimentos – cerca de dois por dia, em média, nos primeiros cinco meses do ano. A pasta se refere aos casos como “intoxicação exógena por canabinoides sintéticos em geral”.

O número de 324 já é 230% maior do que o registrado nos 12 meses de 2022, quando 98 ocorrências foram notificadas. O sinal de alerta fica ainda mais preocupante porque 32% dos 324 casos deste ano foram registrados nas unidades de saúde públicas e privadas em apenas 15 dias, entre 5 e 20 de maio. Até o momento, há uma morte relacionada à droga em investigação. O óbito é de um adolescente de apenas 16 anos no dia 22 de março. O sexo da vítima não foi informado e a Secretaria de Saúde aguarda o resultado laboratorial do IML (Instituto Médico Legal) para confirmar se a morte tem relação com a K9.
Baixo custo, fácil acesso, variedade nas formas de apresentação, surgimento sucessivo de novas gerações, uso combinado com outras substâncias e a dificuldade de realizar exames de detecção têm configurado um grande desafio na formulação de estratégias de prevenção e cuidado Secretaria Municipal de Saúde, relatório
A Secretaria Municipal de Saúde ainda ressalta no documento que há subnotificação de casos. “O relatório foi elaborado a partir dos casos suspeitos de intoxicação exógena notificados no Sinan (Sistema de Informação de Agravos de Notificação), portanto, deve-se presumir que haja subnotificação, assim como atentar que são casos recentes e que a investigação epidemiológica em andamento ainda poderá trazer alterações na caracterização dos casos e seus desfechos”, diz trecho do relatório.
A pasta lançou em abril uma nota técnica afirmando que os efeitos das drogas incidem de forma muito intensa e nociva sobre o organismo. “A maconha sintética é uma substância manipulada e produzida em laboratório sem qualquer controle de qualidade. Baixo custo, fácil acesso, variedade nas formas de apresentação, surgimento sucessivo de novas gerações, uso combinado com outras substâncias e a dificuldade de realizar exames de detecção têm configurado um grande desafio na formulação de estratégias de prevenção e cuidado.”
A prefeitura também informou que houve uma reunião no dia 11 de maio com a Secretaria Nacional de Política Sobre Drogas. “Foram iniciadas as tratativas para a cooperação técnica entre ambas as instituições, com foco no monitoramento e identificação dos compostos contidos nas amostras de indivíduos intoxicados por canabinoides sintéticos”, diz trecho da nota.
Número de casos de intoxicação de K9 por bairro
- Vila Jacuí - 84
- Itaquera - 24
- Cidade Tiradentes - 19
- Ermelino Matarazzo - 18
- Vila Maria - 16
- Guaianases - 15
- Sacomã - 14
- São Mateus - 13
- Itaim Paulista - 12
- Jabaquara - 11
- Jaçanã - 10
- Ipiranga - 8
- Brasilândia - 7
- Perus - 7
- Campo Limpo - 6
- Parelheiros - 6
- Sapopemba - 6
- Liberdade - 4
- Pirituba - 4
- Bom Retiro - 3
- Cachoeirinha - 3
- Cangaíba - 3
- Freguesia do Ó - 3
- Mooca - 3
- São Miguel - 3
- Sé - 3
- Arthur Alvim - 2
- Campo Grande - 2
- Jardim São Luís - 2
- Lajeado - 2
- Pedreira - 2
- Bela Vist - 1
- Capão Redondo - 1
- Grajaú - 1
- Jaraguá - 1
- Jardim Ângela - 1
- Jardim Paulista - 1
- Mandaqui - 1
- Tatuapé - 1
- Vila Prudente - 1
Segurança Pública
Em entrevista ao jornal da Orbi, o delegado do Denarc (Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico), Fernando Santiago, afirmou que as ações contra a K9 estão concentradas no centro, principalmente com o objetivo de descobrir onde os traficantes escondem a droga.
“Eles utilizam pensões que muitas vezes não têm registro de hóspedes e prédios abandonados no centro para guardar a droga perto dos pontos de venda na Cracolândia. Estamos mapeando esses possíveis esconderijos. A droga é retirada aos poucos, e quando a polícia prende, geralmente os traficantes estão com pouca quantidade. Eles também usam os próprios usuários para vender”, diz o delegado.
Santiago explica que há uma grande incidência da substância na zona leste, mas em quantidade menor. “A gente acredita que o foco é no centro histórico de São Paulo porque tem mais gente em condição de rua, o que colabora para a circulação da droga. Ela é muito acessível, mais barata até que o crack. Com R$ 5, é possível comprá-la. O centro acolhe pessoas de todas as regiões. Às vezes, o cara se transforma num dependente químico na zona leste e depois migra para o centro, porque ele vai ter um acesso mais fácil.”
O delegado também ressalta que, desde 2020, o número de apreensões da K9 e outras drogas similares dobra a cada ano.
