COLUNA: ORA, BOLAS!
Copa, Seleção e um torcedor reformado
Posso dizer que, pelo menos pelos próximos 30 dias, quero viver a Seleção com a pureza do Lucas e com a minha pureza de 94

Contei neste espaço tempos atrás do quanto a Copa do Mundo movimentava a molecada do bairro em que eu morava. Vibrei criança com Romário em 1994 e, já na faculdade, torci absurdo para Ronaldo e seu corte esquisito em 2002.
Desde então, por quatro edições em sequência, minha relação com o escrete canarinho esfriou bastante. Não cheguei a torcer contra em nenhum jogo, mas também não fiquei exatamente triste com a lista de fracassos.
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Em partidas das Eliminatórias e nos amistosos, na minha cabeça funcionava o mais cristalino significado de “tanto faz”. Por diversos motivos, não senti a menor vontade de usar a camisa épica do Fenômeno, do penta, que comprei na ocasião.
Agora, são 20 anos a mais na idade e 20 kg a mais na cintura. Assim, por falta de encaixe ergonômico, digamos, não vai rolar usar aquela lendária camisa 9. Também não há no meu armário outro modelo para usar – tenho da Itália, mas não é o caso, já que pela segunda vez consecutiva a Azzurra ficou de fora. Usaria, no entanto, se tivesse outra opção da amarelinha.
Não, o selecionado de Tite não me encanta. Também não me sinto representado pelos figurões do time. O que mudou? Um carinha chamado Lucas. Não o Paquetá. Meu filho mais velho, nascido em dezembro de 2018, poucos meses depois de a Seleção ser eliminada para a Bélgica na Copa da Rússia.
Tem agora 3 anos e pouco mais de 10 meses e acompanha o seu primeiro Mundial. Assiste jogos comigo, sabe cantar o hino e as principais músicas de arquibancada do time que torço. Ainda que trocando algumas letras no melhor “estilo Cebolinha” por causa da idade. As sessões de fono têm ajudado a colocar os “erres” em seus devidos lugares.
Só que, por muita influência da escolinha, que tem trabalhado o tema, e outro tanto de culpa dos influenciadores digitais e desenhos que ele vê na internet, o menininho que nem entende direito o que é a Copa ficou empolgadão semana passada, que antecedia a bola rolando no Qatar. Como por mágica, fui me contagiando junto, contando uma ou outra história da minha relação com o Mundial e que, pra ser sincero, nem despertou nele tanto interesse assim.
O que também não me importou muito. A vivência, a experiência compartilhada entre um mundo que eu orbito e um outro que me mantém em órbita, ressignificou a Copa para mim. Aquela história de construir memórias, né? Para ele e para mim. Posso dizer que, pelo menos pelos próximos 30 dias, quero viver a Seleção com a pureza do Lucas, com a minha pureza de 94. Porque, assim como o mundo, a bola também dá voltas. E que bom!
*Este é um conteúdo independente e não reflete, necessariamente, a opinião da Orbi