COLUNA: EDUCAÇÃO POSITIVA
Nas festas de fim de ano, respeitem a infância
Para que as comemorações natalinas sejam, de fato, respeitosas, precisamos aprender a enxergar o mundo pela lente das nossas crianças
Natal e Ano Novo já chegaram e, com isso, muita ludicidade e fantasia para as crianças. Infelizmente, isso não significa que estejamos, de fato, respeitando a criança, só por se tratar de datas cheias de elementos lúdicos. Nesse artigo, quero compartilhar algumas recomendações importantes quando pensamos em festas de fim de ano com crianças.
A figura do Papai Noel
Continua após a publicidade
Muitas famílias ficam inseguras quanto à abordagem do personagem do Papai Noel para com as crianças. Estariam os adultos mentindo quando falam do Papai Noel? Uma analogia que ajuda a compreender melhor como lidar com esse personagem é a de fazer uma comparação com personagens do folclore, por exemplo. O Saci Pererê existe nas histórias, não na vida real. Existe na fantasia. Não é prejudicial a criança brincar com a imaginação desse e outros personagens, assim como o personagem do Papai Noel. Fantasiar não prejudica a criança. Um ponto importante a ser levado em consideração é que esse personagem (e demais) não pode ser usado para chantagear as crianças, com falas como: “Só vai ganhar presentes caso se comporte bem.” Afinal, nós adultos ganhamos presentes independentemente de como nos comportamos, porque é um ato de carinho.
Caímos no adultismo quando usamos a fantasia da criança para chantagear a própria criança. Se a criança está tendo comportamentos desafiadores, precisamos nos lembrar de que nada mais são do que uma tentativa de comunicação por parte da criança, de que ela precisa da nossa ajuda, de olhar para ela de verdade. Precisamos nos comportar como detetives curiosos que querem descobrir o que está por trás do comportamento. Quanto aos presentes, podemos ser tranquilamente honestos: são os pais e a família que os dão. Isso não estragará a fantasia do personagem do Papai Noel.
Papai Noel no Shopping
É corriqueiro que, nessa época do ano, as famílias visitem o Papai Noel nos shoppings para tirar foto. Duas recomendações importantes são as seguintes: se a criança estiver assustada e chorando, não a force ou obrigue a tirar foto. Ao fazer isso, estaremos colocando a nossa necessidade (de ter a foto) acima da necessidade e bem-estar emocional da criança. Esse também é um cenário adultista, de se colocar mais importância no desejo do adulto do que no da criança. Nesses casos de medo, valide o sentimento dela: “Ficar perto do Papai Noel te assustou? Eu estou aqui com você. Vem, vamos nos afastar.”
Uma criança assustada não tem habilidades emocionais e cognitivas para “enfrentar” esse medo e o papel dos pais e dos adultos cuidadores primários é de serem porto seguro para a criança, e não justamente aqueles que deixam a criança sozinha à face do medo.
Caso a criança queira tirar foto, lembro que é muito importante que ela se sente ao lado do Papai Noel, e não no colo. É, também, uma forma de proteger nossas crianças quando as ensinamos que jamais devemos sentar no colo de estranhos.
Para que as comemorações natalinas sejam, de fato, respeitosas, precisamos aprender a enxergar o mundo pela lente das nossas crianças.
Por Maya Eigenmann, pedagoga, educadora parental, palestrante, pós-graduanda em neurociências, autora do livro “A raiva não educa. A calma educa” e sócia da Escola da Educação Positiva.
*Este é um conteúdo independente e não reflete, necessariamente, a opinião da Orbi.
