CINEMA
'Guardiões da Galáxia vol. 3' honra antecessores sem ser inesquecível
Terceiro e último filme com a formação original dos personagens da saga ganha pela identidade, mas peca com 'bobagens Marvel'

Quando o primeiro filme dos Guardiões da Galáxia estreou, em 2014, embalado em uma empolgante trilha sonora e recheado de um humor menos óbvio que o da "fórmula Marvel", o ousado longa quebrava uma sequência de filmes estrelados pelos super-heróis mais conhecidos da marca. O resultado agradou. Quase dez anos depois, o terceiro e último filme com a formação original dos Guardiões honra a essência dos antecessores, mas fica longe da "era de ouro" da Marvel. O longa estreia nesta quinta (4) nos cinemas .
Sempre que apareceu, a equipe intergalática formada por um humano, alienígenas, uma árvore e um guaxinim falante gerou empatia no espectador. Com boas interpretações e um roteiro que trabalha bem as dinâmicas da equipe, os Guardiões da Galáxia rapidamente viraram queridinhos entre os fãs da Marvel. Foi repetindo a essência do segundo filme que a trama de "Guardiões da Galáxia vol. 3" se aprofunda no passado de um desses integrantes.
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O escolhido da vez foi Rocket Racoon, interpretado por uma dobradinha entre impressionantes efeitos especiais e a voz do ator Bradley Cooper. Na trama contada a partir de flashbacks, o espectador finalmente descobre a história de origem do guaxinim. Sem entrar muito em detalhes, no passado, Rocket fez parte de um cruel experimento cujos responsáveis voltam a ameaçar sua vida. No melhor estilo "um por todos e todos por um", os Guardiões se unem para salvá-lo.
Aposta
A fase da Marvel não é das melhores. O frenesi que havia com a época do Homem de Ferro, Capitão América e os Vingadores contra Thanos dificilmente vai voltar e muitos fãs já não são mais tão apaixonados como antes. Agora, a marca aposta em novos personagens, e em mais ficção e fantasia sem perder a essência de filmes leves, com humor mais infantil e repleto de cenas de ação.
O primeiro mérito de "Guardiões da Galáxia vol. 3" é honrar a essência da equipe que o protagoniza. O tempo de tela de cada personagem é equilibrado e cada um consegue ter o seu momento de glória no filme. O humor que permeia as relações da equipe funciona em, digamos, 70% das vezes (o vício da Marvel em piadas a todo momento atrapalha um pouco as coisas e nem todas funcionam).
A trama é interessante e minimamente original, fugindo da já batida "fórmula Marvel", mas as 2h30 de duração não se justificam, sendo infladas por cenas facilmente cortáveis e uma presença pouco agregadora do personagem Adam Warlock, já bastante conhecido entre os fãs de quadrinhos. A figura cômica e superpoderosa interpretada por Will Poulter cumpre bem seu papel no roteiro, mas não o suficiente para o espectador duvidar da necessidade de sua aparição.
Receio
Para quem já se perdeu nos lançamentos da Marvel e está receoso de o novo filme dos Guardiões cair nas loucuras do multiverso, fica a pergunta: preciso assistir os outros filmes para entender o que se passa em "Guardiões da Galáxia vol. 3"? A resposta é "não". Até quem parou em "Vingadores: Ultimato", de 2019, pode se divertir. Claro, quem acompanha essa história desde 2014 ganha mais, como se estivesse conhecendo o desfecho de uma bela amizade.
Assim como no restante da saga, os protagonistas se destacam. O Peter Quill de Chris Pratt continua engraçado no tom certo, mesmo sendo prejudicado por um roteiro indeciso ao definir se quer um personagem emotivo pelas perdas do passado ou despojado. A Gamora de Zoe Saldana tem um papel útil à trama e desenvolve um arco interessante relacionado ao que se passou em "Vingadores: Ultimato". Groot, Drax, Rocket e as novatas na equipe, Mantis e Nebula, também agradam bastante.

Em "Guardiões da Galáxia vol. 3" a Marvel se mostra mais antenada nas questões que se passam no mundo real. Mesmo com cenários pitorescos, coloridos e com personagens irreais, a proposta do filme permite que problemas bastante reais tomem conta do subtexto do longa. A história de Rocket remete a espírito exploratório e abusador do ser humano perante a natureza e àqueles seres vistos como "coadjuvantes" na Terra, como animais e até a natureza como um todo.
Impossível dizer que uma empresa bilionária como é a Marvel não poderia fazer mais para conter problemas existenciais da humanidade como é a emergência climática, mas só o fato de colocar na cabeça do espectador mais crítico a reflexão sobre a forma que exploramos a natureza e seus seres já anima.
Reflexões
As reflexões são provocadas pelo histérico Alto Evolucionário, vilão interpretado por Chukwudi Iwuji e responsável por experimentos macabros dentro do filme. Se antes a Marvel encontrava problemas com vilões bobos e pouco memoráveis (com exceções como Thanos), aqui ela esboça uma recuperada.
"Guardiões da Galáxia vol. 3" honra seus antecessores em diversos aspectos: a trilha sonora que homenageia clássicos de décadas passadas bem colocados em ótimas cenas de ação; personagens carismáticos e com uma boa dinâmica de equipe; um universo rico, colorido e eufórico criado por uma direção de arte e por maquiagens bastante criativas.
Como resultado, saiu um filme bastante divertido e escapista, mas que ainda esbarra em uma duração longa demais e em um roteiro que, apesar de uma trama interessante voltada a um personagem de peso e de um subtexto pertinente para os nossos tempos, tem seus diálogos toscos e expositivos, e personagens que estão lá pelo show off.
* Por André Derviche