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COLUNA: NOSSO CORRE

O corre delAS!

Mês marcado pela celebração internacional do Dia das Mulheres, março é uma oportunidade para falarmos das dificuldades que nós mulheres enfrentamos

Nosso Corre 09/03/2023 - 14:17 Atualizada em 09/03/2023 - 15:01

		O corre delAS!
O corre delAS!. Imagem: Montagem

Mês marcado pela celebração internacional do Dia das Mulheres, março é uma oportunidade para falarmos das dificuldades que nós mulheres, ainda enfrentamos sim, mas muito mais do que isso, é momento de exaltar nossas conquistas e inspirar outras mulheres a realizarem suas vontades, nos lugares que querem estar, sendo quem querem ser!

Se ser mulher não é algo fácil, imagina ser mãe solo e provedora, ou mulher negra, mulher nordestina, mulher viúva com filhos, que precisa se reinventar e reconstruir a vida? Ou ainda mulher gorda que quer ser mãe? Ou mulher 50+ no mercado de trabalho?


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Sim, elas existem, são de carne e osso, e com seus corres, são felizes, realizadas e nos ensinam que tudo é possível com resiliência, amor por seus sonhos, persistência e dedicação.

Uma delas é Vitória Vasconcellos, uma jovem mulher nordestina e cineasta, que superou o rótulo pejorativo de “nordestina”, estudou cinema nos EUA e ainda, transformou sua própria história em obra premiada. Em entrevista, ela me contou que “Todo lugar que eu vou, as pessoas tendem a duvidar que no Nordeste existe a capacidade das pessoas de aprendem coisas. Parece uma frase tão idiota, mas é verdade! Eu chegava na Universidade (nos EUA), em um grupo de brasileiros, a maioria do Sudeste ou do Sul, (...) e começava a falar Inglês, e eles me perguntavam onde eu tinha aprendido porque era muito difícil pra eles entenderem que uma pessoa nordestina pudesse falar fluente, tendo aprendido o idioma em Recife. Muitas vezes eu tinha que insistir, dizendo que Recife é enorme, que tem tudo que as outras cidades têm!”

Ela contou ainda que “As pessoas pensam que uma mulher nordestina não tem os recursos e o potencial de aprender.” Mas, embora Vitória tenha dito “Eu tinha muito medo de aplicar para o curso de cinema, que era tido como melhor do mundo, porque todos que eu conhecia que faziam o curso, eram do Sudeste.”, ela foi lá, aplicou, passou e ainda, foi selecionada para o Laboratório de desenvolvimento do festival Internacional de Cinema de Toronto (TIFF), um dos mais importantes do mundo.

Em outro extremo, temos a jornalista Claudia Lima, mulher 50+ com uma vasta experiência em importantes editorias e criadora do YABÁS, uma newsletter sobre comportamento, beleza, atualidades e comportamento para mulheres negras de 40 e 50+.

Em entrevista, Claudia me contou que nasceu na Zona Leste de SP e começou sua carreira como jornalista aos 19 anos, em uma Revista de Música, fazendo algo que ela define como “trabalho dos sonhos”. Claudia passou parte de sua vida trabalhando em redações de revistas impressas, e hoje atua como editora contribuinte na Vogue, em uma sessão para mulheres maduras. Mas quem vê o currículo dessa mulher, talvez não imagine o corre que foi sua vida.

Aos 12 anos, Claudia perdeu seu pai e precisou se adaptar à realidade de ter uma mãe trabalhando fora, e a necessidade de além dos estudos, cuidar dos outros 2 irmãos e dos afazeres da casa. “Rememorando isso, vejo que minha mãe foi uma mulher muito forte. Minha mãe saiu para trabalhar sem saber de nada. Ela era dona de casa. Minha mãe tinha o ginásio. Ela saiu para trabalhar e eu virei a mãe.

Então com 12/13 anos, eu ia para o colégio com meus irmãos e quando a gente voltava, eu ia cuidar da casa. Fazer almoço para nós 3. eu ia arrumar a casa. A tarde fazia lição...” - conta ela. “Eu reencontrei uma amiga, do colégio, e ela falava que a mãe dela ficava maravilhada, porque a gente ficava conversando pelo telefone (naquela época) e eu sempre falava: agora preciso desligar, porque eu preciso fazer o jantar!”.

Claudia não está sozinha e nem sua mãe. Eu mesma, por muitas vezes, enquanto eu e meus 2 filhos, precisei sair para trabalhar e deixá-los sozinhos, atribuindo responsabilidades prematuras aos meninos. E não foi uma ou duas vezes.

Mara Ferraz, foi essa mãe também, ou melhor, passou a ser a mãe que precisou fazer seu corre, para cuidar de seus 2 filhos, após a morte quase que súbita de seu marido aos 44 anos. “Eu vivia a expectativa daquela vida que eu fui criada para viver. Minha mãe e meu pai sempre me falaram que eu tinha que formar, ser uma mulher independente, mas que eu também precisava fazer um bom casamento.Casar e ser feliz com esse marido para o resto da vida. (....) Mas a morte prematura por um Câncer fulminante foi muito difícil, me trouxe uma tristeza que eu jamais tinha experimentado e nem os meus filhos.” - conta ela.

Mara precisou se reconstruir como pessoa, como mãe, como família e como mulher. “Eu tive que aprender muitas coisas meio que na marra!” - e adiciona, “Tive que superar as inseguranças. E a maior, é a pergunta que a gente faz o tempo todo: Será que eu estou escolhendo certo? E se acontecer algo com meu(s) filho(s)? Eu sou a única culpada!”

Assim como eu - Cacá Filippini, lidei com meus filhos, de forma sempre honesta e transparente, quando Mara se viu naquela situação de mudança, chamou seus filhos de 12 e 13 anos para uma conversa: “Mudou tudo! Questão financeira ... questão emocional. Vai mudar nossa matemática, porque a gente precisa que cada um se responsabilize pelos seus atos.” - explica ela.

E por falar em mulher mãe, trago a influenciadora plus size Mari Lima que fala abertamente sobre as dificuldades em ser uma mulher em sobre peso e mãe. “Muitas vezes minha filha chega triste com os comentários que outras crianças fazem a meu respeito, e eu procuro ajudá-la. Explico que se alguém me chama de gorda, não está mentindo, porque eu sou gorda desde sempre. Mas que isso não me faz menos que outras pessoas. Que eu sou uma pessoa feliz e que essa é apenas uma característica do meu corpo.” - conta Mari.

Com bom humor, de forma leve e bastante realista, Mari me deu uma lição sobre perseverança. “Quando uma mulher vai ao médico e diz que quer ser mãe, a maioria deles (médicos) destroem o nosso sonho. É como se maternidade e obesidade não pudessem acontecer juntas. Eu sei que existem riscos de saúde, mas a maternidade é possível sim!” e completa “talvez eu não tenha a mesma disposição que outras mães, mas isso não define se sou uma mãe boa ou não para a minha filha.”

Confesso que conversar com Mari foi um divisor de águas pra mim e para os preconceitos estruturais que carrego em minha formação como pessoa, já que ela me apresentou lugares que eu jamais imaginei que pudessem existir. Somos seres de livre arbítrio o que nos dá a opção de aprender no amor ou na dor.

Mara Ferraz me relembrou que “Tem alguns sofrimentos que a gente não vai conseguir evitar durante a vida, e essa dor é uma dor que a gente precisa superar. Mas as dores que podemos escolher, essas ensinam. E precisamos aprender!”

Ser MULHER é acima de tudo, um SER em constante construção. Somos uma unidade, feita da mistura de tantas outras mulheres e de suas histórias. Somos Vitórias, Claudias, Maras, Maris, Cacás e tantas outras e se de fato quisermos as mudanças que tanto gritamos ao mundo há tantos anos, precisamos aprender com todas as dores femininas e não apenas, com àquelas que cada uma carrega!

*Este é um conteúdo independente e não reflete, necessariamente, a opinião da Orbi

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