Opinião
Velha demais para trabalhar?

De acordo com a Confederação Nacional da Indústria, a paridade salarial entre homens e mulheres consta como a medida mais urgente para alcançarmos a equidade de gêneros. A Consolidação das Leis Trabalhistas determina a igualdade entre salários para pessoas que exercem as mesmas funções. Recentemente, foi aprovado um novo projeto de lei que prevê multa para a empresa que descumprir essa obrigatoriedade. Como será que tudo isso funciona na prática?
A gente sabe onde o calo aperta. O descumprimento da lei, por vezes, parece a única regra possível. Ainda é muito relevante a quantidade de mulheres marginalizadas no mercado de trabalho, e se você, como eu, vive num meio de mulheres fortes e realizadas profissionalmente, acredite em mim que somos a minoria.
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Muitas mulheres são descartadas por conta da licença-maternidade, vivem um conflito pessoal e mental com a dupla jornada, sem falar da disparidade na remuneração.
Como se não bastasse essa luta pela equidade e inclusão no mercado de trabalho, ainda temos que encarar outras variáveis que não existem no universo masculino, pelo menos não na mesma intensidade.
Quando os homens envelhecem, se tornam experientes e até desejados. Por outro lado, nós somos vistas como cada vez mais obsoletas conforme os anos passam. Uma pesquisa do site MaturiJobs revela que 62% das mulheres não encontram oportunidades de emprego. A ética do mercado de trabalho é terrivelmente etarista e misógina.
Com isso, além da disputa entre gêneros, nos inserimos involuntariamente numa disputa entre faixas etárias. Ou seja, disputamos espaços com mulheres mais novas e alimentamos a engrenagem da rivalidade feminina que, por sua vez, funciona como uma ferramenta do patriarcado.
O tempo de geração de renda e construção de patrimônio da mulher é menor que dos homens.
Em um certo momento da vida, muitas de nós paramos de trabalhar para cuidar dos filhos ou dos pais mais velhos, seja um ou outro o motivo, quando tentam retomar as atividades, são taxadas como velhas demais para isso. O mercado de trabalho nunca parece favorável para as mulheres. Esse funcionamento afeta nossa liberdade financeira e qualidade de vida. Como sobreviver?
Enquanto esperamos (e lutamos por) projetos de lei e outras intervenções em prol dos nossos direitos, podemos e devemos encontrar modos de viver com mais plenitude na sociedade. Por isso, insisto para que as mulheres busquem suas respectivas emancipações financeiras e invistam em tudo que lhes toca: autoestima, confiança em si, independência, bem-estar. Cuide de seus investimentos para não depender da aprovação de um mercado de trabalho que historicamente nos desaprova.
Ah! Não quero te desanimar… Há empresas de fato conscientes e acolhedoras, que cumprem suas responsabilidades perante a comunidade na qual estão inseridas e desempenham uma missão nobre e justa em prol de um mundo melhor. Entretanto, do ponto de vista sistêmico e estrutural, ainda estamos em pé de desigualdade e precisamos pensar em modos de sobreviver como precisamos e viver como merecemos.
*Este é um conteúdo independente e não reflete, necessariamente, a opinião da Orbi.