COLUNA: DICAS DA REDAÇÃO
‘Escola Base’ é corajoso ao expor ferida do jornalismo brasileiro
Documentário expõe erros na cobertura do caso e revisita os personagens

Por Maria Clara Abaurre, com supervisão de Vanessa Selicani
Durante o lançamento do documentário no Cine Marquise, Alan Ferreira, o idealizador do documentário disponível no streaming Globoplay que esmiúça a cobertura do caso da Escola Base com o protagonismo de Valmir Salaro, aponta que o filme não é apenas uma homenagem ou um pedido de perdão por um erro que envolveu diversas pessoas – não só da mídia, mas também dela. O trabalho tem o intuito de aproximar o jornalista do espectador.
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“Muitas vezes, até nós mesmos nos referimos aos jornalistas como heróis”, afirma o jornalista, que durante sete anos buscou uma oportunidade de recontar essa história. Segundo ele, a idealização distancia o profissional de seu público. “Nós não somos heróis, somos seres humanos”.
E seres humanos erram.
Acredito que, não só neste momento em que enfrentamos uma onda desinformação e diversos ataques (acompanhados pela descrença) à imprensa, mas por muitos dos anos que estão por vir, seja importante relembrar isso, ainda que no futuro enfrentemos outras questões. Jornalistas, assim como todos os outros profissionais, são humanos – e humanos erram.
O documentário, assistido no primeiro momento por jornalistas conceituados e estudantes universitários, lado a lado, mostra que os erros muitas vezes não podem ser desfeitos, mas que seres humanos também perdoam aqueles que erram. Perdoam aos outros e aprendem a perdoar a si mesmos.
Com coragem, medo, culpa e todos os sentimentos que acompanham o cutucar de uma antiga ferida, Valmir Salaro revive a cobertura do caso e se encontra com personagens importantes dessa história. O repórter senta na frente das pessoas mais machucadas pelo erro cometido, personalizado no repórter que primeiro anunciou a denúncia, e se abre à escuta.
Numa narrativa angustiante, em que não se formam vilões ou mocinhos, o documentário mostra o desenrolar dos fatos de forma que, aqueles que não conhecem ou não lembram dos detalhes do caso de 1994, conseguem acompanhar a história. Enquanto quem conhece mergulha de cabeça na sequência de erros e fatos que escalaram de tal forma que resultaram na condenação por parte da sociedade de pessoas que eram inocentes, que acabaram presas num desfecho injusto.
Para jornalistas e futuros jornalistas, o filme faz sentir uma pequena fração do peso que a profissão carrega. Para todos, o documentário mostra o que é ser humano nos mais diversos sentidos: seja como um ser que erra, como um ser que é incapaz de uma justiça final ou seja como um ser que, antes de partir dessa vida, perdoa.
*Este texto é um conteúdo independente e não reflete, necessariamente, a opinião da Orbi