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Desmantelando o Racismo

COLUNA: DESMANTELANDO O RACISMO

A Síndrome da Negra Raivosa

Desmantelando o Racismo 13/02/2023 - 16:12

		A Síndrome da Negra Raivosa
Elza Soares lutou pelos diretos das mulheres negras. Imagem: Divulgação

Não dá pra começar esta conversa sem ir lá atrás no processo de escravização onde tudo começou.

A referência de mulher era a mulher branca: a correta, a certa, a colonial, a que estava no poder, a que dava ordens e determinava como tudo acontecia à sua volta, ou seja, a sinhazinha.


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As mulheres negras, nesta época, eram estupradas, violentadas pelos senhores, muitas vezes com o consentimento indireto das suas senhoras. Não havia sororidade, havia submissão, opressão, violência e escravidão. E mulheres brancas não falavam nada, pelo contrário, castigavam as mulheres pretas por estarem de madrugada com os seus senhores, como se elas quisessem estar. Era um estupro, não uma noite de amor.

As mulheres negras precisavam e precisam até hoje se defender. A branquitude usufrui ainda do nosso corpo, principalmente nesta época do Carnaval, como se mais ainda estivéssemos disponíveis para tamanha crueldade.

Mas este texto não é sobre Carnaval, é sobre os estereótipos que somos classificadas.

Quem nunca disse ou ouviu alguém dizer que a mulher negra é perigosa, instável, descontrolada, que não sabe controlar as suas emoções, não consegue agir racionalmente.

Segundo Grada Kilomba, psicanalista negra, isso se dá pelo fato da pessoa branca projetar nas pessoas negras suas próprias dimensões primitivas, animalescas, selvagens e inferior. "O racismo não é biológico, mas discursivo" (pág.130,Grada Kilomba).

Não somos e nunca seremos "princesinhas brancas”, mulheres coloniais e europeias. Somos diferentes e ser diferente, mostrar sua personalidade e identidade, não significa que somos raivosas.

De novo, se eu for falar de como a branquitude nos deseja: só sorrindo, sambando, com corpo negro no seu imaginário fantasioso, ser, expor, dar sua opinião, lutar pelos seus direitos é ser raivosa?

Estamos sempre por baixo, sempre em serviço, sempre sendo menosprezados pela sociedade para caber no imaginário do que gostaria que a gente fosse. Isso cansa. Isso é violento.

Mães pretas chorando pela morte dos seus filhos, lutando em cadeias pela inocência dos seus, brigando na fila do SUS por um atendimento, pedindo vaga nas escolas, implorando por cesta básica e agradecendo quando tem desconto no panetone do Natal que eles não comeram na época e brigando com os seus filhos para não comer tudo de uma vez o que esperou por dois meses.

As nossas falas são de muita resistência.

Julgar e sentenciar que uma mulher preta na sua ação é raivosa é um ato racista.

Mais da metade da população quer estar perto de mulheres negras sorrindo e felizes com o mínimo que tem? Não!

É um processo, doloroso, importante que tem de sair deste lugar de uma história única.

A sociedade, o governo, o ser humano precisa aprender muito sobre nós, porém, mais ainda sobre si, a herança é da branquitude, e vocês precisam dar conta disso.

É sobre isso!

*Este é um conteúdo independente e não reflete, necessariamente, a opinião da Orbi.


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