ANÁLISE
Futebol não é para amadores

Já se foi o tempo em que gritar gol era a única função de um torcedor. A verdade é que mais e mais torcedores não querem apenas levantar a taça de campeão e seguirem alheios aos resultados e impactos totais desses clubes. Hoje, eles querem ovacionar seu time, mas também querem a certeza de que o clube é ético, sua gestão é transparente e que o clube não irá acabar na próxima temporada.
Por isso, falar em gestão profissional no futebol é algo urgente. Gerir um clube é tarefa complexa e exige conhecimentos e habilidades específicas. São inúmeras atividades que precisam ser planejadas e executadas, como no mundo dos negócios. Porém, acrescenta-se a tudo isso a necessidade do entendimento das especificidades do próprio esporte, de suas competições e uma compreensão do ambiente político, geralmente complexo.
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O futebol no Brasil e no mundo continua sendo uma indústria de paixões de milhões e a interação e forma da cobrança de torcedores e de diversos stakeholders é um capítulo a ser sempre estudado. Porém, nosso momento de mundo, com tudo mais interligado, investidores estrangeiros, pessoas mais conscientes e empoderadas e onde temos tecnologias que permitem comunicação em tempo real, felizmente, temos menos espaço para segredos e manipulação. Soma-se a isto legislações específicas, um mercado que pede mais transparência e patrocinadores que prezam por sua reputação e exigem não só prestação de contas, mas consideram critérios pré-definidos de integridade e governança como condição para assinarem um contrato de parceria.
Em conversa recente com um dirigente de clube, escutei a seguinte frase: “impossível investir em governança com recursos escassos”. Compreendo a dificuldade, mas tive de ser taxativa ao replicar dizendo que ninguém deveria aceitar o desafio de ser dirigente de um clube de futebol sem o compromisso do conselho e da gestão com recursos para uma gestão de excelência. Comece incorporando os quatro princípios da governança: transparência, equidade, prestação de contas e responsabilidade social. Comece por um belo diagnóstico e defina onde querem chegar, quais os recursos necessários e quanto tempo o clube levará para mudar de realidade. Comunique muito, engaje o máximo de pessoas que conseguir e pactue com todos os seus públicos de interesse.
São muitos aspectos que se somam para um clube ser considerado campeão e perpetuar. Juntos, rumo a um futebol ético, inclusivo, sustentável e competitivo. Vencerá o Brasil, venceremos todos nós.